
Trecho: "Infelizmente, os mais de nós costumamos traduzir, interpretar tudo o que ouvimos. Compreendeis? Dizeis que é assim que está nos Upanishads, que é isso o que significa tal frase do Bhagavad-Gita. Desse modo, estais interpretando, e não compreendendo; por consequência o vosso conhecimento se transforma num empecilho à experiência direta. Urge, por conseguinte, suprimirmos conhecimento, eliminarmos todo o conhecimento (não me refiro ao conhecimento relativo à construção de uma ponte, por exemplo, o qual é essencial; não estou pregando o retorno ao estado primitivo, o que seria absurdo) urge eliminarmos o conhecimento comparativo, o conhecimento que interpreta o que outros dizem. Essa interpretação, essa tradução é uma forma de satisfação do “eu”, do seu desejo de estar sempre seguro, sempre certo; por causa dele a mente está sempre a dizer: “é o que diz o Livro” — sustando, assim, com essa afirmação, com essa tradução, o experimentar, o estudar.
A mente, sem dúvida, deve achar-se num estado de completa incerteza, quer dizer, num estado de completa inação, um estado de desconhecimento, em que a mente jamais diz “eu sei”, “eu tenho experiência”, “é isso mesmo!” A mente que diz “eu sei” é incapaz de resolver qualquer problema complexo do viver."
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